Nosso Bairro
O comércio interno como a força da economia
Presença de grandes redes faz os pequenos comerciantes das Três Vendas terem de se adaptar para superar a concorrência
Nas Três Vendas, a proximidade com a zona rural e o distrito industrial faz a economia da região girar bastante em torno do comércio. Com famílias de trabalhadores que migraram para a zona urbana para trabalhar nas fábricas, o perfil mudou nos últimos anos: alguns dos antigos atacados faliram e novas empresas surgiram, como os atacarejos e grandes redes de supermercados.
Se por um lado a vasta quantidade de opções traz à comunidade geração de emprego, renda, possibilidade de realizar ranchos com descontos e de adquirir produtos variados, por outro os pequenos comerciantes sentem o baque da concorrência de verdadeiros gigantes, com muitos precisando forçar uma adaptação. Outros acabaram não resistindo. E há, ainda, os pequenos empreendimentos alimentares, como lanchonetes. O bairro também não passa ileso à crise econômica, e a “paradeira” citada por praticamente todos os comerciantes com quem se conversa, somada à inflação, é a principal questão de temor.
Na Vila Princesa, Bento Schwanck, proprietário de uma ferragem, resume apenas com “complicado” a questão comercial. Diz que sente a crise, com as vendas diminuindo nos últimos anos. A saída acaba sendo vender no crédito, embora as famosas “fichas” tenham diminuído, com os cartões de crédito ganhando mais e mais espaço. Ainda assim, fregueses antigos, conhecidos da vizinhança, volta e meia compram no bom e velho fiado, com a confiança da relação de mais de 15 anos.Dono de um mercado há 50 anos, Nelson Mülling já não se preocupa com maus pagadores e aposta na fidelidade da clientela (Foto: Jô Folha - DP)
“No sufoco”
Há mais de 50 anos o mercado Ás de Espada ocupa a esquina das ruas São Geraldo e Francisco Ferreira Veloso, na Santa Terezinha. O proprietário Nelson Mülling diz que agora vende no “pingadinho”, principalmente para clientes fiéis, um cenário bem diferente do visto em décadas anteriores, quando era comum perceber a vizinhança fazendo ranchos por ali. Uma das saídas acaba sendo o caderninho do fiado, mas até isso diminuiu. A gaveta, agora com poucos exemplares, já chegou a ter mais de uma centena de clientes que compravam na confiança. Embora a pandemia tenha feito alguns atrasarem, diz já não ter preocupação com maus pagadores. “Quem tinha que calotear, caloteou (...) quem ficou é o cliente fiel”, pondera.
A percepção de Mülling é de que a economia interna da Santa Terezinha mudou: hoje o morador faz o rancho do mês nas grandes redes e usa o mercado do bairro para adquirir apenas pequenos itens que acabam faltando. No entanto, mesmo com a queda acentuada nas vendas, desistir não é uma opção. “Eu vou até morrer aqui”, garante. Outra saída foi transformar o mercado também em bar, com uma clientela mais fixa.
O padeiro César Oliveira, há cinco anos no Pestano, concorda que a crise afeta, mas vê uma espécie de estagnação na queda de vendas. “É a mesma coisa (...) não melhora, mas acaba se acostumando”. Ele diz que a pandemia fez o movimento cair, mas que atualmente voltou aos índices considerados normais. Embora julgue ser impossível acompanhar os preços dos grandes mercados, diz que no seu segmento a influência é menor. Porém, em outros produtos além dos pães, fica difícil concorrer. No ramo, ainda vê uma outra diferença: o meio de mês é a melhor época, já que as famílias costumam fazer ranchos no início e, após isso, passam a comprar mais dentro do bairro.
Caderninho do fiado ainda é uma saída para garantir boas vendas (Foto: Jô Folha - DP)
Explicação para os grandes comércios na região
O macroatacado Krolow é uma das grandes empresas das Três Vendas. Há cerca de 30 anos na região, o colaborador Almiro Lira explica que a escolha, na época, foi pela proximidade de grandes avenidas e da zona rural, já que ficava mais próximo para vender ranchos. Hoje um dos mais antigos, em anos já longínquos tinha a concorrência de outros atacadistas, como Casarin e Breno Brahm. “É uma zona totalmente residencial (...) e é o bairro que mais cresce”, analisa, citando os diversos novos loteamentos e empreendimentos surgidos nos últimos anos.
Com o mercado situado em um afunilamento de cinco avenidas, ele diz que a localização colabora muito para atrair a clientela, mas que a variedade de produtos que um atacado oferta é o principal fator, sinalizando as mais de 105 mil opções em suas prateleiras. “Tem marcas variadas, para todos os públicos”, explica, mencionando, por exemplo, o café, que vai de opções que custam R$ 3,00 a R$ 50,00, conforme o bolso do cliente. Lira reconhece que, dessa maneira, o atacado se sobressai diante do pequeno comerciante. “Muitos se tornaram clientes”, explica, lembrando que, por vezes, o preço consegue ser mais em conta que o de fornecedores e, assim, empresas como pizzarias, lanchonetes e serviços de delivery preferem fazer as compras por lá.
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Dono de ummercado há50 anos, Nelson Mülling já nãose preocupa com maus pagadores e aposta na fidelidade da clientela
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